Inovação

O que aprender com a infraestrutura viária na Europa?

Quem trabalha com projeto de vias e estradas sabe que a infraestrutura viária na Europa é um exemplo a ser seguido. Quem tem a oportunidade de dirigir em terras europeias logo percebe muitas diferenças entre as estradas de lá e as estradas brasileiras.

Nosso país ainda não tem uma infraestrutura de transportes ideal, mas felizmente esse cenário está mudando. Profissionais, construtoras e órgãos públicos estão cada vez mais focados em projetar e construir estradas e veículos seguros com o objetivo de reduzir acidentes e a perda de vidas no trânsito.

Se você também se interessa por infraestrutura e segurança viária e quer entender mais sobre o assunto, está no lugar certo. Continue lendo e confira o que o nosso país pode aprender com a infraestrutura viária na Europa!

Compromisso com a segurança em toda a infraestrutura viária na Europa

Os países-membros da União Europeia assinam vários acordos em relação a temas diversos e possuem legislações comuns. A segurança viária faz parte dos assuntos abordados e o parlamento europeu publicou uma diretiva em relação à infraestrutura. Entre os compromissos assumidos, estão, por exemplo:

  • a realização de auditorias de segurança em projetos de infraestrutura;
  • a inspeção de segurança nas estradas;
  • a elaboração de relatórios sobre as causas de todos os acidentes com vítimas fatais ocorridos nas estradas transeuropeias;
  • o intercâmbio de melhores práticas;
  • a melhoria contínua das práticas de segurança.

Ou seja, o documento deixa claro como o bloco econômico dá importância ao tema e cobra que seus membros atuem para otimizar a segurança nas rodovias.

Limites de velocidade

Naturalmente os limites de velocidade devem respeitar as condições de construção da via e o nível de interação dos veículos que trafegam nela com veículos em outras vias, pedestres e ciclistas.

Onde existe interação com outros automóveis, ciclistas ou pedestres, a velocidade deve ser baixa. Já onde existe separação entre os dois sentidos e não possui acesso para veículos de baixa velocidade, o limite pode ser mais alto.

Na Europa, existem muitas zonas de baixa velocidade, de 30km/h ou 15km/h, geralmente em zonas escolares ou residenciais. Além do limite de velocidade, busca-se reduzir o tráfego nesses locais, seja direcionando o tráfego para outras vias ou promovendo outras formas de locomoção, como a bicicleta.

Como resultado das áreas com limite de 30km/h, temos redução da quantidade total de acidentes em 27%, da quantidade de vítimas com lesões leves em 61% e dos acidentes com lesões severas em 70%.

Uso de barreiras de proteção

As barreiras de proteção são um dos pontos mais importantes da segurança do sistema viário. Atualmente as defensas metálicas são consideradas as mais seguras na maioria dos casos.

Também chamadas pelo nome em inglês (guard rails), elas têm a função de impedir que o veículo saia da pista e bata em outros objetos, além de servirem para absorver energia e reduzirem a severidade do impacto, diminuindo as chances de lesões nas pessoas envolvidas nos acidentes.

A norma europeia EN 1317 determina as características de performance a serem atingidas por esses elementos. Essa norma contém as diretrizes para testes das barreiras e visa garantir que elas cumprirão as exigências.

Os testes europeus descritos na EN 1317 estão entre os mais bem-conceituados do mundo e servem de referência para a norma ABNT NBR 15486 utilizada no Brasil.

Veículos

O estado de conservação e os elementos de segurança dos veículos também têm influência direta nos acidentes e no número de lesões decorrentes deles. Os carros mais antigos contavam com poucos elementos de segurança, o que aumenta consideravelmente as chances de lesões para os ocupantes envolvidos em acidentes.

Todos os carros produzido no Brasil a partir de 2014 já contam com airbag e freios ABS de fábrica. Também vem crescendo a preocupação das montadoras em atingir boas classificações nos crash tests, o que tem motivado a criação de projetos mais seguros.

Um relatório mostra que, em 2015, a idade média da frota brasileira era de 9 anos. Nos países europeus mais desenvolvidos, essa idade é bem menor. Por exemplo, na Alemanha são 6,87 anos, 5,76 no Reino Unido e 6,71 na Suécia.

Outro ponto de atenção nesse contexto é que a Europa exige o cumprimento de uma série de medidas de segurança nos veículos que não são exigidas pelo Brasil. Como resultado, mesmo os veículos com projetos europeus sofrem modificações ao chegarem ao Brasil, com a remoção de itens de segurança para reduzir custos.

Ainda assim, faz sentido comparar a frota brasileira com a frota europeia quando falamos de veículos de passeio. Isso porque os carros na Europa geralmente são menores e mais leves, como os veículos brasileiros também tendem a ser. A frota norte-americana, por exemplo, tem a característica de contar com veículos maiores e mais pesados do que os sedãs e hatches tão populares no Brasil.

Já quando falamos sobre caminhões, a comparação com o mercado europeu não é tão interessante. No Brasil, temos principalmente veículos biarticulados e treminhões. Inclusive, para este tipo de veículos, não existe crash test de barreira de contenção porque o comportamento do último eixo não garante a repetibilidade do teste.

Por fim, não podemos deixar de mencionar o uso de carros elétricos como grande tendência nos países europeus. Vários países já anunciaram planos para acabar com os motores a combustão, enquanto no Brasil as iniciativas ligadas a carros elétricos ainda são tímidas.

Programas de segurança

Em todo o mundo, programas de segurança no trânsito se mostram eficientes na redução dos acidentes e das vítimas. Alguns exemplos europeus podem inspirar o nosso país, como o programa Visão Zeroda Suécia. Criado em 1994 e transformado em lei em 1997, ele se baseia em quatro princípios:

  1. a vida e a saúde humana são mais importantes do que a mobilidade e outros objetos do sistema viário;
  2. todos são responsáveis por garantir a segurança e cumprir as normas, incluindo fornecedores, organizações e condutores;
  3. os seres humanos cometem erros e o sistema viário deve minimizar as possibilidades de falhas;
  4. fornecedores e órgãos de controle têm que estar comprometidos com a melhoria contínua da segurança nos sistemas viários.

Os idealizadores do programa resumem a iniciativa em uma frase: nenhuma perda de vidas é aceitável. Como resultado, as estatísticas de morte em acidentes de trânsito na Suécia estão entre as menores do mundo: apenas 3 fatalidades por ano para cada 100 mil habitantes. No Brasil, a taxa é de 23,4, ou seja, mais de 7 vezes maior do que na Suécia.

Portanto, podemos resumir o que pode ser aprendido com a infraestrutura viária na Europa em alguns pontos principais:

  • compromisso com a segurança e a melhoria contínua;
  • limites de velocidade condizentes com as características das vias;
  • uso de elementos viários, como barreiras de contenção, para reduzir a severidade dos acidentes;
  • exigência da produção de veículos mais seguros;
  • estabelecimento de programas de redução de acidentes.

Se o Brasil se espelhar nesses pontos da infraestrutura viária na Europa e passar a tratar a segurança nas estradas como prioridade, poderemos reduzir as ocorrências, as mortes no trânsito e todas as consequências delas.

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